Nasci mulher e negra, ainda na infância me lembro de andar em conflito com o meu corpo, com o meu cabelo, com a cor da minha pele.
Nesta altura as referências sociais de beleza eram exatamente opostas à minha. Andei uns bons anos à procura deste corpo ilusório, a fugir do espelho, a fazer amor com a luz apagada para me sentir aceite e menos inadequada.
E assim, fui afastando-me de mim, da minha origem, da minha essência, e neste desvio o meu corpo sofreu, desequilibrou e adoeceu.
Não te iludas, não percas mais o teu tempo em busca de um corpo dos sonhos, ele não existe fora de ti…
Existem sim indústrias predadoras que lucram em divulgar ideais de corpos femininos e fakes.
Existem sim influencers, blogueiras e celebridades ocas que mostram uma vida, rotinas e corpos de mentiras com o objetivo de te fazer sentir excluída e que, muitas vezes, representam as indústrias acima.
Existe sim uma sociedade e uma economia que ao longo dos séculos criou uma grande armadilha para manter-te escrava de um consumo excessivo de vazio, de um mundo de faz de conta e de um estereótipo de beleza único e padronizado.
Existe sim uma linha ténue entre cuidar de ti para te sentires bem e cuidar de ti para te encaixares em padrões pré estabelecidos por uma cultura patriarcal e que massifica o culto do corpo da mulher como objeto sexual.
Não te iludas, não perca mais o teu tempo em busca de um suposto corpo dos sonhos, o verdadeiro sonho é viver, é sentires bem é estar aqui e agora com saúde no corpo que já tens.
